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Viparita Karani — Quando o mundo se inverte e a paz encontra morada

abr 25

3 min de leitura

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Vivemos tempos de excessos: compromissos, cobranças, estímulos, urgência. Corpo, mente e emoções tentam acompanhar esse ritmo, mas aos poucos começam a sinalizar — de forma sutil ou intensa — que algo precisa desacelerar. É nesse cenário que Viparita Karani, a postura restaurativa conhecida como “pernas para o alto”, se apresenta como um verdadeiro santuário de silêncio e cura.


Simples à primeira vista, essa postura é um convite para inverter o fluxo das tensões e se entregar a um descanso profundo. Seu nome vem do sânscrito: viparita significa “invertido” e karani, “ação”. Juntas, essas palavras nos falam sobre a arte de fazer diferente — de agir na direção oposta da agitação, da ansiedade, da exaustão.


Na tradição do yoga, Viparita Karani é também considerada um mudra interno, associado à reversão do fluxo energético vital. Essa inversão sutil harmoniza o sistema nervoso, equilibra os centros energéticos e nos aproxima de um estado meditativo de presença e rendição.

Fisicamente, os benefícios são muitos: melhora da circulação sanguínea e linfática, alívio de dores nas pernas, tornozelos e lombar, redução da pressão arterial e da frequência cardíaca, estímulo à digestão e ao sono. Mas é no campo emocional que essa postura revela sua potência mais profunda: acalma a mente, dissolve a ansiedade, ameniza sintomas de depressão leve e oferece um espaço seguro de introspecção.


Na yogaterapia, Viparita Karani é amplamente utilizada em casos de estresse crônico, burnout, transtornos de ansiedade, insônia, fadiga emocional e desequilíbrios energéticos. Seu caráter restaurativo e não invasivo permite que seja aplicada mesmo em pessoas com limitações físicas, dores intensas ou fragilidade emocional.


Como executar a postura


A versão mais simples pode ser feita com apoio das pernas na parede. A entrada deve ser suave: deite-se de lado, próximo à parede, e vá girando o corpo até que fique perpendicular a ela. As pernas sobem para o alto, apoiadas na parede, enquanto a parte superior do corpo permanece no chão, com os braços ao lado do tronco e as palmas das mãos voltadas para cima. Um cobertor dobrado sob o quadril ou sob a cabeça pode trazer conforto. Para quem estiver menstruada, com hipertensão ou desconforto na lombar, o ideal é manter o quadril no chão, evitando qualquer elevação.

Permaneça de cinco a quinze minutos, respirando com consciência e entregando-se à gravidade. Não há esforço. Não há correção. Apenas presença e espaço para que o corpo se reorganize de dentro para fora. A mente aos poucos silencia, o coração encontra ritmo, e o sistema nervoso reconhece que pode repousar.

Para sair da postura, dobre os joelhos com delicadeza, trazendo-os em direção ao peito. Role para o lado direito com os olhos fechados e permaneça deitado por alguns instantes antes de se sentar. Tudo deve ser feito com a mesma calma com que se vive a prática — sem pressa de voltar ao que ficou lá fora.


Já a forma avançada de Viparita Karani começa a partir da posição sentada. Role para trás, eleve as pernas até que os quadris saiam do chão. Dobre os cotovelos e apoie os quadris nas mãos, com os dedões voltados para frente e os demais dedos para trás, como se as mãos formassem taças. Os cotovelos ficam no chão, formando uma base triangular que sustenta o corpo, da cabeça aos cotovelos e destes aos quadris. Respire, refine a postura e permaneça o tempo que for confortável. Para desfazê-la, vá descendo lentamente as costas até o chão, dobrando os joelhos, até que o corpo esteja novamente deitado.


Viparita Karani é, em sua essência, um lembrete de que o descanso também faz parte da cura. Que o silêncio também comunica. Que o simples também transforma. Em um mundo que valoriza o fazer constante, essa postura nos ensina a nobre arte de não fazer — de apenas ser. E, nesse ser, reencontrar o equilíbrio.


No Yoga Morungaba, essa é uma das posturas que mais utilizamos quando sentimos que a alma do aluno pede acolhimento. Ela nos lembra que o autocuidado pode começar por um gesto singelo: encostar as pernas na parede e ouvir, com o coração tranquilo, tudo aquilo que o corpo vinha tentando dizer em silêncio.


Namastê.

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